Prontas para a
instalação desde fevereiro, mais de 2,2 mil cisternas estão
"encostadas" em Granja, na região Norte do Ceará. Equipamentos já
deixaram de captar chuvas de quase toda a quadra chuvosa deste ano
Há quase três meses, grandes
recipientes de plástico são elemento estranho na paisagem de Granja, na Região
Norte do Estado. Aos milhares, as estruturas se acumulam pela cidade – sobre
praças, terrenos baldios e até canteiros de obras. Pode soar estranho em meio
aos quatro anos de seca no Ceará, mas trata-se de mais de 2,2 mil cisternas de
polietileno, prontas para instalação desde fevereiro e até hoje “encostadas”
pela Prefeitura.
Com a finalidade de captar água das chuvas para uso da população mais
pobre, os equipamentos estão sem uso desde que chegaram ao Município. Com isso,
já deixaram de acumular quase toda a quadra chuvosa de 2015 - período entre
fevereiro e maio que concentra o maior índice de chuvas do ano.
Os equipamentos fazem parte de parceria entre a Prefeitura de Granja e o
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) para a construção de
3.500 cisternas no Município. A reportagem tentou entrar em contato com o Dnocs
para saber o valor total investido no projeto, mas não obteve resposta.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, cada cisterna desse tipo
custa - somando despesas de fabricação e instalação - R$ 5 mil, totalizando
valor de R$ 17,5 milhões no caso de Granja.
Cadastramento
Segundo Francisco
Gonzaga Souza, titular da Defesa Civil de Granja, pelo menos 2.223 cisternas
estão no Município desde a terceira semana de fevereiro. Segundo ele, os
equipamentos ainda não foram instalados pois estão em fase de cadastramento e
georeferenciamento.
Francisco afirma, no entanto, que as primeiras unidades devem ser
entregues a partir desta semana. Questionado sobre como será o abastecimento,
diante do prognóstico negativo a partir de maio, ele diz que a captação ocorrerá
por meio de carros-pipa.
A opção é contestada por especialistas, que classificam a água dos
caminhões como “inadequada” e destinada apenas para emergências. “O ideal é que
essa água, usada para beber e cozinhar, venha das chuvas. A água dos caminhões-pipa
é de qualidade ruim, reservada para crises”, diz o presidente do Esplar e
membro do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido (FCVSA), Marcus Oliveira.
Na página oficial do Ministério da Integração Nacional, também é
destacado que esse tipo de cisterna é destinada a “captar águas pluviais”.
População
Em passagem por
Granja, equipe do O POVO flagrou pelo menos seis pontos onde dezenas de
cisternas estavam paradas. Entre os moradores, a situação chama a atenção. “Já
está desse jeito faz tempo. Ninguém sabe quando vão tirar”, diz José de
Oliveira, morador da sede de Granja.
Ele diz que tem enfrentado dificuldades com água - “como todo mundo” -,
mas lamenta a situação sobretudo para distritos mais afastados. “É lá que a
coisa deve estar bem difícil”, diz..
SAIBA MAIS
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, Granja tem hoje
Índice de Desenvolvimento de 0,559. É o segundo menor IDH do Estado do Ceará,
na frente apenas do Município de Salitre.
Procurada pelo O POVO, a assessoria de imprensa da Controladoria Geral
da União (CGU) em Brasília afirma que o órgão realiza inspeções para o uso
adequado de recursos para programas de cisternas. Ela destaca, no entanto, que
atuação da CGU nesses casos é mais “secundária”, sendo a fiscalização dever do
órgão que firma a parceria. No caso das cisternas de Granja, o Dnocs.
A reportagem procurou o Dnocs para uma série de questionamentos. O
órgão, no entanto, informou que apenas responderia as perguntas na próxima
segunda-feira.
2,2 mil é o número de cisternas sem uso no Município de Granja
16 mil litros é a capacidade de armazenamento d’água de cada cisterna
R$ 5 mil é o custo de cada cisterna, envolvendo sua fabricação e instalação
Fonte: O POVO Online